Quando a paixão se torna profissão: Conheça a trajetória de Regiane Abreu Moreira com a dança

Quando a paixão se torna profissão: Conheça a trajetória de Regiane Abreu Moreira com a dança

Publicado em: 27 jul, 2020 às 16:24

Arte, ciência, paixão e disciplina. Essas são apenas algumas das palavras utilizadas pela professora de balé Regiane Abreu Moreira para falar sobre a dança.
Sua vida está tão entrelaçada com a dança que é difícil definir o início. “Eu não me lembro de quando começou. Desde que eu nasci, sempre gostei muito de música, de dança, as minhas brincadeiras eram montar coreografias, montar espetáculo. Então assim, a minha relação com a dança foi desde muito pequena mesmo”, conta ela.
Não demorou muito para todo o amor pelo balé se transformar também em muito estudo e dedicação. “Eu estudava em uma pré-escola e nessa pré-escola os meninos iam para Educação Física e as meninas tinham balé. Então desde pequena já comecei assim como todas as minhas amigas da classe. Eu me lembro o cheiro da sala de balé, o jeito que a luz entrava lá de fora, o cheiro da sapatilha, do uniforme, sempre foi uma coisa que me encantou muito e as apresentações, gostava desde pequena também. Depois eu entrei em uma escola de balé mesmo que é mais direcionado para técnica e não parei mais. Aí fui buscando novas escolas e as oportunidades foram aparecendo. Cheguei a ir embora do país por causa da dança, estudei no balé oficial da Bolívia, morei sete anos fora do Brasil”, lembrou Regiane.
Sua temporada em outro país sem dúvidas pode ser considera um divisor na trajetória com a dança. “Acho que essa oportunidade de ir para o balé oficial na Bolívia abriu um novo horizonte. Até então eu queria fazer uma faculdade, mas eu não sabia o que, porque não queria deixar a dança e eu sabia que seria difícil conciliar as duas coisas”, contou ela.
A professora também comenta que a vida da bailarina é muito, mais muito mais que dançar. Por exemplo, no balé oficial eram 8 horas de balé clássico por dia, além de história da dança, história da música, balé folclórico, fisiologia, anatomia e fisiologia. “As pessoas pensam que a vida da bailarina é só dançar. E não, a vida bailarina é muito estudo e você tem que ir atrás das oportunidades. A bailarina não é professora de dança. A professora de dança se torna a partir do momento que ela busca técnica, busca forma de ensinar, porque trabalhamos com crianças desde os três anos até o balé adulto. Então você tem que saber o que vai ensinar para cada fase, as fases do desenvolvimento da criança, maturidade óssea para cada exercício. É algo bem complexo, olhando espetáculo você pensa ‘é só a dança’, mas a dança é uma arte e uma ciência”, disse Regiane.
A bailarina contou que após sair do balé oficial foi estudar fisioterapia. “Porque eu pensei assim; se eu vou ser uma professora, eu quero ser a melhor professora. E para ser a melhor professora eu tenho que saber como lidar com esse corpo humano desde pequeninho, desenvolvendo, para podermos conciliar as duas coisas porque dança também é saúde. É arte, saúde e ciência” relatou ela.
A professora lembrou que desde que não tenha contra indicação médica  ‘a dança não tem limites’. E que os padrões de beleza e estereótipos estão cada vez mais deixando o balé. “Hoje em dia não existe mais aquele padrão da bailarina magra. Ela pode ser de qualquer estrutura, tanto a bailarina, quanto o bailarino”, contou.
Além da disciplina, para Regiane outra lição aprendida com a dança é a autoestima e o posicionamento. “Na minha escola de balé eu procuro trabalhar muito essa parte da autoestima com a criança, com a mulher, com adolescente. Acredito que através da dança essa parte da autoestima pode ser muito trabalhada. A pessoa para se apresentar no palco ela tem que ser muito bem resolvida, tem que ter muita segurança. Então a dança vai ajudar até mesmo no desenvolvimento escolar, a postura em relação a pedir um emprego. Falamos desta postura na dança, mas é essa postura na vida que temos que ter, é você abrir o peito, encarar as coisas de frente. Então a dança ajuda muito, não só a mim, mas todas as outras pessoas”, explicou a professora.
Ao falar sobre o que mais admira na dança, Regiane não hesita ao comentar sobre o impacto que esta arte tem na vida das pessoas. “Eu acho que é essa aproximação que a dança proporciona. Porque a dança é essa linguagem universal. Eu posso dançar em qualquer país eu estou me comunicando, estou expressando uma ideia, estou mostrando um espetáculo. A dança não tem tradução, então acho que esse é o lado que mais me encanta. Além do bem que faz para a pessoa; eu pude perceber nesta pandemia quando tudo fechou e não foi possível mais dar aulas para as crianças, eu percebi que não imagino minha vida sem a dança. Eu acho que se eu tivesse oportunidade  de nascer novamente eu ia escolher esse mesmo caminho”, destacou.
A relação da professora com todas aquelas que foram suas alunas são construídas na base da admiração e afeto. “Eu falo que cada bailarina é um pouquinho minha filha. Eu falo para as mães quando me perguntam se a filha vai se adaptar, será que vai gostar, como funciona a escola de balé, a primeira coisa que eu falo é que trato minhas bailarinas como gostaria que tratassem meus filhos. Sempre gostei de crianças, dar aula para criança especialmente é uma coisa que eu adoro, mas depois que  temos filhos vemos que é mais especial ainda porque às vezes as bailarinas se espelham em mim para algumas coisas que elas possam fazer. E quando elas crescem, vão para faculdade, mudam de cidade, é uma coisa bem emocionante porque elas não deixam de demonstrar o carinho, a saudade. Quando elas vem para cá elas vão na minha casa, me mandam mensagem, é muito gratificante”, contou Regiane.
A maneira como sua família se envolve e participa das produções dos espetáculo é citada com orgulho por ela. “Deus me deu a oportunidade maravilhosa de casar com um artista e casar com dois filhos que me ajudam muito. Então a ideia surge, eu conto para eles e para as bailarinas e assim; durante o ano todo a gente ouve uma música e fala ‘essa poderia ser para reverência final’, ‘mãe você podia fazer dessa maneira o cenário’. Então assim, a família toda pensa”, disse a professora.
A importância da dança em todas as etapas da vida, como através do balé adulto e mulheres que se redescobriram na dança do ventre são para Regiane exemplos da importância desta arte. “O legal é que realmente a dança não tem idade e a sala de aula é um ambiente protegido, que você pode ser você, você se permite errar, sem nenhuma crítica e com aprendizado. Então é uma forma muito legal das mulheres se valorizarem”.

Texto: Bruna Camargo
Fotos: Arquivo pessoal